Difusora: de Arthur Pizzoli a Assis Chateaubriand
2013
Luiz Artur Ferraretto

Idealizada como empresa – seja para sustentar a venda das mercadorias da Casa Coates, seja para obter lucro pelo patrocínio de sua programação –, a Rádio Difusora Porto-alegrense sofre um duro impacto, em 1935, com o surgimento da Farroupilha. Na nova emissora, tecnologia, recursos financeiros e interesses políticos convergem, objetivando transformar a estação da família Flores da Cunha em uma das maiores e mais influentes do país. Aos 25 kW do potente transmissor da PRH-2, a estação de Arthur Pizzoli contrapõe os seus 500 W, ampliados apenas em outubro de 1936. Os dados existentes indicam, contudo, que a potência do novo equipamento não ultrapassava 5 kW. Os problemas com a qualidade do sinal da Difusora chegam a ser ridicularizados na imprensa especializada da época. No final de 1937, por exemplo, circula uma anedota reproduzida na Folha da Tarde. Alguém afirma:

– Ainda bem que a Difusora construiu um auditório...

Para ouvir, na sequência a pergunta:

– Por quê?

E a resposta vir rápida:

– Ao menos de lá pode se ouvir a estação!

O auditório que vai virar chiste – pequeno, mas o primeiro de Porto Alegre – integra a estratégia da emissora para confrontar a Farroupilha, emissora que se pretende para a elite, embora atinja também o restante da população. Como no prédio da concorrente, para assistir às apresentações, são aceitos apenas convidados muito especiais – patrocinadores, figurões da política, capitalistas... – e, assim mesmo, em poucas e selecionadas ocasiões, a Difusora trata de instalar, em 1937, junto ao seu estúdio, um espaço para abrigar o público. Ao mesmo tempo, mantém uma linha de programação um pouco mais popular. No final da década de 1930, sob a direção artística de Nelson Lanza, a rádio criada por Pizzoli transmite, deste modo, dois grandes sucessos da época: Serões da Dona Generosa, radioteatro em tom humorístico criado por Roberto Lis; e Hora do Bicho, programa de calouros conduzido por Piratini.

A emissora não deixa de recorrer, também, a talentos do centro do país, como acontece em novembro de 1936, quando Aracy de Almeida, Floriano Belham, Irmãs Pagãs, Jorge Murad e Sonia Barreto, entre outros, misturam-se com artistas locais em um espetáculo transmitido do Cinema Imperial, complementando as comemorações de aniversário e marcando a instalação do novo transmissor.

Anúncio da Rádio Difusora Porto-alegrense (1936)
Fonte: Folha da Tarde, Porto Alegre, 31 out. 1936. p. 10.

Segundo Breno Futuro, após comprar a Gaúcha, Arthur Pizzoli começa a enfrentar problemas para obter patrocinadores devido à precariedade do mercado porto-alegrense. Pensa, então, em vender suas duas emissoras, gerando os recursos necessários para adquirir a Farroupilha, muito mais potente. Em 1943, o representante dos Diários Associados no Rio Grande do Sul, João Freire, assiste às comemorações do nono aniversário da PRF-9. Pizzoli aproveita e oferece a estação. Dias depois o negócio é fechado. Tomando conhecimento de que iriam enfrentar o poderio dos Associados, os proprietários da Farroupilha, já em sérias dificuldades financeiras, oferecem a PRH-2 para Freire. Atraído pelo canal exclusivo internacional e pelo transmissor de 25 kW, ele se reúne mais uma vez com o proprietário da PRC-2 e da PRF-9, que, algo impensável nos dias atuais, desfaz amigavelmente a transação já acertada. Um ano depois, empolgados com o faturamento da Farroupilha, os Associados voltam à carga e adquirem por Cr$ 4 milhões (quatro milhões de cruzeiros) a Difusora. A rádio, no entanto, não chega a deslanchar nos anos seguintes, acabando por ser vendida para a Ordem dos Capuchinhos em 1959.

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