Antônio Augusto, o plantão esportivo dos gaúchos
2014
Luiz Artur Ferraretto

Sempre que se altera o placar de algum outro jogo de importância para o ouvinte, o plantão esportivo Antônio Augusto interfere em meio à transmissão:

– Tem gol!

Para na sequência, Armindo Antônio Ranzolin retrucar:

– Onde, Antônio Augusto?

Antônio Augusto (1983)
Fonte: Microfone, Porto Alegre, maio 1983. p. 6.

A atuação profissional deste radialista na retaguarda das transmissões reveste-se, também, de importância significativa na conformação da estrutura padrão das jornadas esportivas no Rio Grande do Sul. Através do seu trabalho, definem-se, no estado, as tarefas do plantão, com significativos indícios de pioneirismo em termos nacionais. Até o início dos anos 1960, para dar o placar de partidas em paralelo com a irradiada, redatores fazem escuta de estações de fora de Porto Alegre e repassam os dados para um locutor de estúdio, o mesmo que lê os textos dos patrocinadores, divulgar os resultados no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo. Predominam, neste período, informações captadas por ondas curtas e referentes a jogos em desenvolvimento no centro do país – Rio de Janeiro e São Paulo – ou da região do rio da Prata – Buenos Aires e Montevidéu. As precárias e escassas linhas telefônicas ligando a capital às demais cidades gaúchas também contribuem para que pouco ou quase nada entre a respeito das disputas no interior do estado.

Trabalhando nas rádios Difusora (1960-1964) e Farroupilha (1964-1971), Antônio Augusto começa a desenvolver uma rotina de trabalho que vai além da simples escuta de outras emissoras para informar resultados. Monta, na realidade, um banco de dados com os mais diversos detalhes sobre o desempenho dos clubes e dos jogadores, conferindo valor jornalístico à função de plantão esportivo ao complementar a narração. Durante a década de 70, com a popularidade adquirida pela loteria esportiva, as informações sobre o retrospecto dos times de futebol ganham destaque nos meios de comunicação, garantindo ainda mais notoriedade a Antônio Augusto, possuidor, já naquele momento, do arquivo, indicam os dados levantados, mais completo da Região Sul do país.

No momento do gol, após a descrição do lance e as observações do repórter de campo postado atrás da goleira, se o comentarista ilustra com opinião, cabe a ele trazer as estatísticas sobre o artilheiro e a situação dos times, como neste exemplo, extraído da segunda partida das finais do Campeonato Brasileiro, no dia 3 de maio de 1981, jogo em que o Grêmio vence por 1 a 0 ao São Paulo:

Armindo Antônio Ranzolin (narrador) – Paulo Isidoro arrancou no campo de ataque, prendendo a bola como convém, deixando respirar a sua meia-cancha. Entregou, agora, para Paulo Roberto. Paulo Roberto levantou. Chuveiro na área para Renato Sá. Subiu para cabeçada, atrasou para Baltazar... Matou no peito, experimentou, uma bomba, atirou... Gooooooooooooooooooooooool do Grêmio! Baltazar! Dezenove minutos e 35, no segundo tempo! Gol do iluminado, Baltazar! Gol do Chuteira de Ouro! O Grêmio faz 1 a 0 contra o São Paulo! Zero a zero serve! Um a zero, senhores, pode fazer do Grêmio, com 77 anos, campeão brasileiro em 1981! Cristalizou o Morumbi! Está derretendo o iceberg! O Grêmio está transformando o iceberg em picolé – e muito gostoso – no Morumbi, João Carlos Belmonte...

João Carlos Belmonte (repórter) – Quando ele perdeu o pênalti em Porto Alegre, no final da partida ele disse para a Guaíba: “Deus está reservando algo melhor para mim”. Estava com a razão! Renato Sá se deslocou pelo comando do ataque, cabeceou para trás, Baltazar dominou no peito e, antes que a bola caísse, emendou em um sem pulo sensacional! Venha comigo, ouvinte da Guaíba, e repita comigo, torcedor gremista: Grêmio 1, São Paulo 0! Campeão do Brasil, se Deus quiser!

Antônio Augusto (plantão) – É o décimo gol de Baltazar em 21 jogos. Gol 32 do Grêmio, que, agora, precisa o São Paulo fazer dois.

Lauro Quadros (comentarista) – Olha, zero a zero já servia. Um a zero é sensacional, mas não precisava ser golaço. Pegou na veia. Foi de voleio. Foi na gaveta com Valdir adiantado. Mas, importante: Renato Sá entrou e, em seguida, fez este jogadaço, a deixa de cabeça para Baltazar estufar as redes. A participação de Renato Sá. O São Paulo, agora, vai ficar louco, maluco, atucanado. Ótimo para o Grêmio, Ranzolin...

Este tipo de rodízio de vozes no momento mais importante deste misto de espetáculo esportivo e radiofônico caracteriza, desde os anos 70, as irradiações de jogos de futebol no Rio Grande do Sul.



Antônio Augusto na Jornada Esportiva Ipiranga (1973)
Fonte: Acervo particular.

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