Cicero Augusto, da loteria esportiva à astrologia
2007
Luiz Artur Ferraretto
Programa Show da Loteria
(outubro de 1974)
O comunicador Cicero Augusto conversa com a Miss
Brasil 1974, Janete Hoeveler.
Fonte: Hoje, Porto
Alegre, 1º nov. 1974. p. 28.
Hoje astrólogo de sucesso no centro do país, Cicero Augusto
começa, nos anos 1970, a
se destacar no rádio de Porto Alegre na onda de uma grande mania nacional. O
programa Loteria de Sucessos é, na
época, um dos carros-chefe da Farroupilha, que apresenta uma programação ainda
eclética, mas já pendendo, majoritariamente, para o popular. Assim, em meados
da década de 1970, passam pelo microfone da emissora, além de Cicero,
profissionais como Aurélio Câmara, Dilamar Machado, Sayão Lobato, Teixeirinha
e, até mesmo, o astrólogo Omar Cardoso, então famoso no rádio de São Paulo.
Este último vai, no futuro, servir de inspiração para o então apresentador do Loteria de Sucessos.
Quando a programação começa a dar bons resultados, um
curto-circuito provoca, no dia 12 de janeiro de 1974, um incêndio de grandes proporções
nas instalações da rádio, ao lado do prédio da TV Piratini, no morro Santa
Teresa. Todo o empenho dos funcionários em restabelecer a programação normal da
emissora não vai resistir à decadência crescente dos Associados. O próprio
Cicero Augusto, pouco depois, transfere-se para a Gaúcha, que arrisca pender
para o rádio popular, nas indefinições próprias daqueles tempos.
A fórmula dos programas que conduz então é bem simples,
misturando música com palpites sobre jogos de futebol. Na época, a loteria
esportiva administrada pela Caixa Econômica Federal com base em 13 partidas faz
milhares de pessoas em todo o país apostarem a cada semana. Inspirado em
atrações semelhantes de emissoras do centro do país, o Loteria de Sucessos, das 14 às 17h, na estação dos Associados,
coloca os ouvintes dando palpites para cada uma das partidas do concurso,
ganhando prêmios os que acertam mais resultados. Além de músicas, há, também,
entrevistas com personalidades que arriscam previsões sobre os jogos do final
de semana. Ao se transferir para a Gaúcha em 1974, apresenta o Show da Loteria, de estilo idêntico e
quase no mesmo horário, das 14 às 16h.
No entanto, na nova emissora, que não se define entre o
jornalismo e o popular, Cicero Augusto vai enfrentar um sério problema,
responsável pelo fracasso do programa. Conduzindo um programa líder de
audiência na Farroupilha, de forte apelo junto à classe C, o comunicador, ao se
transferir para a Gaúcha, é proibido de veicular músicas consideradas
excessivamente populares pela gerência da rádio, o que reduz o público e leva à
transferência do radialista para a Difusora.
Mas é na Farroupilha, mais tarde, que Cicero Augusto
aproxima-se das coisas dos signos e dos astros:
– Foi por causa do Omar Cardoso. Ele esteve em Porto Alegre
quase um mês fazendo o programa na Farroupilha. Eu fui apresentar junto com
ele, porque não tinha quem apresentasse. E me interessei, foi me envolvendo. Um
ano, um ano e meio depois, não tinha quem fizesse horóscopo. Nós inventamos um
nome pra um astrólogo, que tinha que ter e começamos a fazer horóscopo a sério.
Aí, quando eu saí da Farroupilha, passei eu mesmo a me identificar como autor
das previsões, já na Rádio Caiçara.
Na mesma linha, o comunicador cria quadros ou programas como
o Sexo do Bebê e a Magia dos Sonhos. Com o primeiro, em
época pré-ecografia e outros avanços da tecnologia, chega a 60% da audiência do
horário:
– Era um cálculo baseado no ciclo de fertilidade. O ciclo de
ovulação da mulher ocorre sempre num período, que acompanha uma fase lunar. Tem
uma série de pesquisas que eu fiz e achei um cálculo. Aperfeiçoei uma tabelinha
e dá 97% de acerto.
Na mesma linha, algo esotérica, Cicero faz o Magia dos Sonhos, tipo de quadro também
frequente no rádio popular. É o Sexo do
Bebê, no entanto, que desperta o interesse da Rádio Mulher, primeiro
prefixo do comunicador em São Paulo. Hoje, o astrólogo, além de continuar ao
microfone, assina colunas em diversos jornais do país. Em todos, usa na forma
de apresentar suas previsões a experiência de comunicador acumulada desde o
final dos anos 1960, quando um desconhecido Cicero Augusto Holderbaum, aos 16
anos, iniciava sua carreira na Rádio Progresso, de Novo Hamburgo, no Vale do
Rio dos Sinos.
Cicero Augusto
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 26 de maio de 2003.
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