Balanço do Rádio do RS em 2017 
Alguns apontamentos para recordar 
a história do rádio no estado

Luiz Artur Ferraretto


O ano de 2017 passa para a história do rádio do Rio Grande do Sul como um período de muita prudência por parte dos gestores das emissoras. Mesmo movimentos mais significativos dos principais players do mercado gaúcho trouxeram essa marca. É o caso de algumas alterações de programação e até do lançamento de novos produtos na expansão do meio para a internet. A exemplo do ocorrido no ano anterior, reduzir custos foi a principal preocupação das emissoras em um cenário de acirramento da crise político-institucional do país e no qual o reaquecimento da economia ainda aparece mais como possibilidade do que como algo concreto. Equipes foram reduzidas e/ou profissionais passaram a assumir mais e mais tarefas. Para 2018, o cenário é incerto. No caso do segmento de jornalismo, eleições e Copa do Mundo surgem no horizonte como prováveis grandes destaques, embora nem todas as rádios tenham condições de buscar no mercado publicitário os recursos necessários para dar conta de coberturas extremamente caras como essas. Pairam dúvidas a respeito da continuidade do relativo reaquecimento em termos de audiência do rádio centrado na música, independentemente do tipo de público: adulto, jovem ou popular. Resta ainda uma incógnita na disputa sobre os ouvintes do rádio povão de conteúdo baseado na fala. O próximo ano promete também ser o da aceleração no processo de transferência de emissoras do AM para o FM. Afinal, em 21 de setembro de 2017, foi assinada a portaria de expansão da faixa de frequência modulada, algo que se viabiliza a partir do fim das transmissões analógicas de televisão. A luta vai começar a ser pela fabricação e comercialização de receptores para esse tipo de banda.
Para 2018, fica ainda outra dúvida: emissoras exclusivamente pela internet vão, por fim, se firmar? Ao longo dos próximos 12 meses, podem lançar um pouco de luz sobre essa questão a aposta de rádios segmentadas em futebol como Galera ou torcedoras - caso da gremista Pachola e da colorada Inferno.

Na sequência, o ano de 2017 em 10 tópicos.

OS 90 ANOS DA GAÚCHA E AS SEIS DÉCADAS DA GUAÍBA
No ano do medo em relação aos investimentos, as duas mais tradicionais emissoras do segmento de jornalismo do Rio Grande do Sul fizeram aniversário com as chamadas datas redondas, sempre uma oportunidade de reforço de marca. As comemorações, no entanto, foram tímidas. Mesmo na rádio que é a base do Grupo RBS, o mais poderoso do estado, a valorização dos 90 anos da Gaúcha ficou restrita a alguns programas transmitidos, em fevereiro, na sua semana de aniversário de fundação. Muito diferente, portanto, do ocorrido em outras oportunidades. Por exemplo, em 1987, sob o comando de Flávio Alcaraz Gomes, a Gaúcha chegou a relembrar durante todo o ano a história do rádio no estado em uma série de programas produzidos por Nelson Cardoso, ou, dez anos mais tarde, com Armindo Antônio Ranzolin na gerência, a emissora transformou-se em uma escola de samba, com o dedo de Cláudio Brito, para desfilar no carnaval de Porto Alegre. No final de março, a rádio da família Sirotsky, pelo menos, lançou uma boa campanha promocional intitulada Gaúcha 90 anos – A gente vive junto.

Institucional da campanha Gaúcha 90 anos – A gente vive junto (março de 2017)

A marca da Gaúcha ganhou reforço também dentro das comemorações dos 60 anos do Grupo RBS, contados pela empresa a partir da entrada de Maurício Sirotsky Sobrinho no comando da rádio, como sócio minoritário, em 1957.

Reportagem de Guacira Merlin sobre os 60 anos do Grupo RBS (31 de agosto de 2017)

Logomarca comemorativa aos 60 anos da Guaíba (abril de 2017)

Já o aniversário da Rádio Guaíba coincidiu com um domingo de jornada esportiva, sendo citado ao longo da programação daquele 30 de abril. As comemorações na emissora do Grupo Record também foram menos abrangentes do que em outros momentos. Talvez o mais marcante tenha sido, no dia 24, a transmissão do programa Esfera Pública, com Juremir Machado e Taline Opptiz, direto da Câmara de Vereadores, onde, na sequência, a emissora foi homenageada.


Trecho do programa Esfera Pública, transmitido da Câmara de Vereadores (24 de abril de 2017)

MOVIMENTAÇÃO DE PROFISSIONAIS
Em 2017, talvez em função do quadro de insegurança reinante em relação ao futuro, houve intensa troca de profissionais nas emissoras do Rio Grande do Sul. O processo atingiu, em especial, nomes consagrados e, há tempos, relacionados a algumas das marcas mais fortes do mercado radiofônico.

Luiz Carlos Reche, por exemplo, deixou o Grupo Bandeirantes de Comunicação (10 de fevereiro), manteve-se com o seu Cadeira Cativa na Ulbra TV e, mais tarde (1º de novembro), voltou ao rádio na Grenal. Já o narrador Paulo Brito saiu da RBS TV e se transferiu para o grupo da família Saad, passando a atuar também na Rádio Bandeirantes (2 de abril).

Marco Antônio Pereira deixou a Guaíba (7 de agosto), voltando ao microfone na Grenal pouco depois (13 de setembro), onde permaneceu até dezembro. Para o seu lugar, a emissora do grupo Record (9 de agosto) foi buscar José Aldo Pinheiro, até então na Band, e Luís Magno, ex-narrador no projeto de rádio esportivo da Pampa do final dos anos 1990, que estava na Rádio Caxias. Para a Grenal, também foi Flávio Dal Pizzol (4 de abril) e, da mesma emissora, se desligou um de seus mais antigos funcionários, Thiago Suman (9 de agosto), passando atuar no projeto da web rádio Inferno, que cobre como torcedora os jogos do Internacional.

Um dos mais importantes comunicadores do rádio jovem do Sul do país, Everton Cunha, o Mister Pi, deixou a Farroupilha (16 de fevereiro). De fato, vinha sendo muitíssimo mal aproveitado pela emissora tradicionalmente associada ao segmento popular. Passou a integrar (18 de agosto) a equipe da Rádio Fan, de Cachoeira do Sul, onde já estava (junho) Eron Dal Molin, também ex-Farroupilha, aliás outro que não estava tendo o espaço merecido na estação da família Sirotsky.

Dentro do projeto de renovação da Band, a emissora contratou Alex Bagé, Fernanda Zaffari e Mister Pi (25 de agosto). Para a emissora do grupo paulista, também foi Wianey Carlet, desligado do Grupo RBS (31 de julho) após o vazamento de um áudio em que criticava, no seu estilo bonachão, algo safado sobre o comentarista Paulo Sant’Ana, falecido dias antes. Em outra emissora do grupo paulistas, a BandNews, Sabrina Thomazi estreou no comando do BandNews Happy Hour, dividindo o microfone com Ico Thomaz (4 de dezembro).

UM ANO DE MUITAS MUDANÇAS NAS EMISSORAS DE JORNALISMO
Há anos, também não se viam tantas mudanças de programação no segmento de jornalismo em Porto Alegre. Ao final, de fato, virando e mexendo, as grades dessas rádios ficaram ainda mais parecidas, existindo poucos diferenciais para atrair o público. Por exemplo, na faixa do meio-dia, as únicas opções para quem quer fugir do futebol seguem sendo BandNews no Meio-dia, com André Machado, na BandNews, às 12h, e Esfera Pública, na Guaíba, com Juremir Machado e Taline Opptiz, às 13h10.

Líder na audiência geral na Grande Porto Alegre, a Gaúcha descontinuou uma de suas marcas mais tradicionais. Um dos programas que serviu de referência no processo de adoção do formato talk and news, na década de 1980, o Gaúcha Repórter saiu do ar. Em seu lugar, buscando intensa aproximação com as redes sociais, entrou o Gaúcha+, com Leandro Staudt, Kelly Matos e Diogo Olivier (4 de setembro).

Vídeo de divulgação do Gaúcha+ (1º de setembro de 2017)

Meses antes (6 de março), de formato e em horário semelhantes, a Guaíba havia lançado o Conexão Guaíba, com Nando Gross e Ananda Muller, substituindo os programas A Cidade é Sua e Guaíba Revista.


Trecho da edição de estreia do programa Conexão Guaíba (6 de março de 2017)

Já a Band buscou a consultoria de Claiton Selistre, profissional com experiência de gestão na Rádio Gaúcha e na RBS TV, alterando substancialmente a sua grade (4 de setembro). Antes (janeiro), Sérgio Cóssio assumiu a direção geral do Grupo Bandeirantes de Comunicação no Rio Grande do Sul. Estrearam novos programas: 90 Minutos, às 9h30, com André Machado, no estúdio em Porto Alegre, e Fernanda Zaffari, de Londres; e Toque de Bola, às 12h30, com Alex Bagé, César Cidade, Mister Pi, Paulo Brito e Wianey Carlet. Outros sofreram modificações. Foi o caso, por exemplo, do Tempo Real, às 16h, com Oziris Marins, e do Band Esporte Show, às 17h30, que passou a ser ancorado por Mister Pi.


Trecho da edição de estreia do programa 90 minutos (4 de setembro de 2017)

Trecho da edição de estreia do programa Toque de Bola (4 de setembro de 2017)

Trecho da edição de estreia do novo Tempo Real (4 de setembro de 2017)

Trecho da edição de estreia do novo Band Esporte Show (4 de setembro de 2017)

JORNALISMO: NA POLÍTICA, A CORRUPÇÃO E, NO ESPORTE, O GRÊMIO
A exemplo dos anos anteriores, a crise político-institucional seguiu dando a tônica da cobertura jornalística. Por exemplo, na noite em que o jornal O Globo trouxe a público graves denúncias contra o presidente Michel Temer na delação dos executivos da JBS, as emissoras jornalísticas de Porto Alegre – Band, Gaúcha e Guaíba – mantiveram intensa cobertura apesar das transmissões esportivas. Dois destaques envolvendo a rádio do Grupo RBS: a presença, já no dia seguinte, da repórter Kelly Matos em Brasília, juntando-se à equipe da rádio na capital do país; e as participações de Cláudio Brito, com seus conhecimentos da área de Direito, traduzindo o juridiquês dos vários cenários possíveis (17 e 18 de maio).


Cláudio Brito e as implicações jurídicas das delações da JBS (18 de maio de 2017)

O tricampeonato do Grêmio na Copa Libertadores fez a alegria dos torcedores tricolores e mobilizou as quatro emissoras que se dedicam à cobertura intensiva de futebol (22 e 29 de novembro). Aqui, os gols dos dois jogos decisivos contra o Lanús, da Argentina:


Pela Band, Daniel Oliveira narra o gol da vitória por 1 a 0 na Arena (22 de novembro de 2017)


Pela Gaúcha, Pedro Ernesto Denardin narra o gol da vitória por 1 a 0 na Arena (22 de novembro de 2017)

Pela Guaíba, José Aldo Pinheiro narra o gol da vitória por 1 a 0 na Arena (22 de novembro de 2017)


Pela Grenal, Haroldo de Souza narra o gol da vitória por 1 a 0 na Arena (22 de novembro de 2017)


Pela Band, Paulo Brito narra o primeiro gol da vitória por 2 a 1 no estádio La Fortaleza (29 de novembro de 2017)

Pela Band, Paulo Brito narra o segundo gol da vitória por 2 a 1 no estádio La Fortaleza (29 de novembro de 2017)


Pela Gaúcha, Pedro Ernesto Denardin narra o primeiro gol da vitória por 2 a 1 no estádio La Fortaleza (29 de novembro de 2017)


Pela Gaúcha, Pedro Ernesto Denardin narra o segundo gol da vitória por 2 a 1 no estádio La Fortaleza (29 de novembro de 2017)


Pela Guaíba, José Aldo Pinheiro narra o primeiro gol da vitória por 2 a 1 no estádio La Fortaleza (29 de novembro de 2017)


Pela Guaíba, José Aldo Pinheiro narra o segundo gol da vitória por 2 a 1 no estádio La Fortaleza  (29 de novembro de 2017)


Pela Grenal, Haroldo de Souza narra o primeiro gol da vitória por 2 a 1 no estádio La Fortaleza (29 de novembro de 2017)


Pela Grenal, Haroldo de Souza narra o segundo gol da vitória por 2 a 1 no estádio La Fortaleza (29 de novembro de 2017)

A mobilização repetiu-se menos de um mês mais tarde com a disputa do Mundial Interclubes, em Abu Dhabi, quando o Grêmio perdeu o título no jogo final para o Real Madrid por 1 a 0 (16 de dezembro).

AS OUSADIAS DA AGÊNCIA RADIOWEB
O ano começou bem para a Radioweb, com o anúncio de que a empresa era a agência noticiosa mais premiada do país, conforme o levantamento do Jornalistas&Cia. (26 janeiro). E seguiu com outras conquistas e algumas ousadias. Na crise política provocada pela divulgação das gravações das conversas de Joesley Batista com o presidente Michel Temer e com o senador Aécio Neves, a agência quebrou, com 15.704 downloads, o recorde de transferência de arquivos (18 de maio) para as emissoras que usam seus serviços. O maior lance da empresa dirigida pelo jornalista Paulo Gilvane Borges foi, sem dúvida, a parceria com a Confederação Brasileira de Futebol, montando uma rede com pouco mais de 300 emissoras para a transmissão da convocação da Seleção Brasileira (19 de maio) e de alguns amistosos (junho). A equipe da Radioweb contou com o narrador Felipe Santos, o comentarista Antonio Carlos Duarte e os repórteres Felipe Zboril e Lisandro Violante. A iniciativa pode, no futuro, se constituir em um modelo de irradiação dos jogos da Seleção operado diretamente pela CBF.


Trechos das transmissões dos amistosos da Seleção Brasileira (junho de 2017)

A FORÇA DO RÁDIO JOVEM
Quatro grandes destaques: o aniversário de 10 anos do programa Pretinho Básico, da Atlântida (2 de abril); a intensificação da concorrência, com a Mix chegando a liderar o segmento em alguns levantamentos do Kantar Ibope Media; a transferência de Porã para a Unisinos FM, de São Leopoldo, provocando o reposicionamento da emissora (julho); e a aposta da Fan FM, de Cachoeira do Sul, em dois dos principais comunicadores do estado, Eron Dal Molin e Mister Pi (junho e julho).


Pretinho Básico comemorativo dos 10 anos do programa (3 de abril de2017)


Chamada para o Programa do Porã nas redes sociais (5 de setembro de 2017)


Contratação de Eron Dal Molin na Fan FM (20 de junho de 2017)


Contratação de Mister Pi na Fan FM (3 de julho de 2017)

O PODER DO POVÃO NO RÁDIO

Banner da Rádio Caiçara, fazendo referência ao Top of Mind (junho de 2017)

Em um ano no qual Caiçara e Farroupilha disputaram intensamente a liderança do segmento popular, a estrela de Sérgio Zambiasi seguiu brilhando. O comunicador da Rede Pampa de Comunicação foi o mais lembrado no Top of Mind 2017, da revista Amanhã (junho). De fato, depois de se recuperar de uma enfermidade, Zambiasi voltou com toda força ao microfone. No segmento, destacam-se ainda Gugu Streit, da Farroupilha, e Paulo Josué, da Caiçara.

NO CAMINHO DA CONVERGÊNCIA
Em 2017, as rádios do Grupo RBS seguiram como as que mais apostam na convergência. No caso da Gaúcha, até entradas de repórteres, passaram a contar com o uso de câmeras para as transmissões usando o Facebook (12 de setembro). Fora isso, destacaram-se duas iniciativas do conglomerado da família Sirostky: o aplicativo Pelas Ruas, para o público relatar problemas da cidade e base de várias pautas nos veículos do grupo (23 de março); e o portal Gaúcha ZH (21 de setembro), unificando operações de internet da rádio e do jornal.

Banner do Pelas Ruas (23 de março de 2017)


Vídeo de divulgação do portal Gaúcha ZH (21 de setembro de 2017)

Nas demais emissoras do segmento de jornalismo, as iniciativas ficaram restritas, na prática, a transmissões de estúdio, usando o Live do Facebook ou a iniciativas quase pessoais de alguns jornalistas em coberturas no palco de ação dos fatos. Uma exceção foi a intensificação, pela Grenal, da produção de pequenos materiais exclusivos para as redes sociais.

Matheus D’Ávila e Filipe Kunrath em vídeo produzido pela Grenal para as redes sociais (14 de maio de 2017)

Pensar a convergência não é exclusividade das emissoras da capital. De Santa Cruz do Sul, vem um exemplo disso. Em combinação com o portal GAZ, a Gazeta fez a transmissão, de Ijuí, com imagem da final da Divisão de Acesso (Série A2) do futebol gaúcho entre o São Luiz e o Avenida (17 de junho).


Trecho da transmissão de São Luiz x Avenida, vitória do time de Ijuí nos pênaltis (17 de junho de 2017)

MIGRAÇÃO PARA A FREQUÊNCIA MODULADA
Foi o ano em que a migração das emissoras para a frequência modulada avançou um pouco. Iniciado em setembro de 2016, com a Jovem Pan News, de Osório, o processo segue, no entanto, lento no Rio Grande do Sul. Conforme o portal Tudo Rádio, até novembro, apenas 20 emissoras gaúchas originalmente em AM já haviam começado a transmitir em novos canais de FM. A lista não inclui, obviamente, rádios que adquiriram estações ou fizeram parcerias para espelhar seu áudio na frequência modulada. A listagem atualizada do Tudo Rádio pode ser conferida aqui

EM MEMÓRIA
O rádio do Rio Grande do Sul chorou a partida de alguns de seus mais importantes profissionais: Adroaldo Streck (11 de janeiro), Jayme Copstein (13 de janeiro), Holmes Aquino (29 de abril), Paulo Sant’Ana (19 de julho) e Wianey Carlet (29 de setembro). Também faleceu Willy Gonzer, que fez sucesso em Porto Alegre nos anos 1970, mas estava radicado em Minas Gerais há pouco mais de quatro décadas (23 de agosto).

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