De "speaker" a "locutor" (mas quase "falador")
2021 
Elisa Kopplin Ferraretto

Por pouco, as emissoras brasileiras não estariam cheias de “faladores”. Nos primeiros anos do rádio, como tudo era novidade, não havia palavras na Língua Portuguesa para designar algumas funções. Era o caso da relacionada ao anúncio das atrações da programação, que foi, então, denominado com a palavra inglesa speaker.

No início dos anos 1930, um dos primeiros speakers brasileiros – o professor Abílio de Castro, contratado pelo Rádio Clube de Pernambuco em fevereiro de 1926 –, propôs substituir o termo por “locutor”. Em entrevista ao professor e pesquisador de rádio Luiz Maranhão Filho, nos anos 1980, Castro relatou como surgiu a ideia do novo vocábulo:

Há tempo que eu vinha zangado com esse termo speaker. Eu vinha encabulado com ele porque, como estudioso da língua portuguesa, abominava qualquer estrangeirismo. O único que eu admitia era o latim, porque não o considerava estrangeirismo, como não é. É nossa língua mãe. De modo que eu escrevi para alguns colegas da Argentina pedindo que nos programas da América Latina eles empregassem o termo locutor e não speaker. Era uma palavra latina, uma palavra de origem latina, de locur, locus, locutur, loque - de maneira que daí vinha - locutus, locutoris, locutor, quer dizer, aquele que fala, que pronuncia, que se faz compreender. E a Holanda, depois do Rádio Clube, foi a primeira que admitiu o termo locutor. Aqui no Brasil foi onde mais se resistiu. Não quiseram aceitar.

Um dos que se opôs à ideia foi Mário Melo, que, em sua coluna no Jornal Pequeno, de Recife, sugeriu como alternativa o termo “falador”. Abílio de Castro contou a Maranhão como reagiu quando amigos lhe contaram sobre a proposta:

Falador é ele que fala da vida alheia, fala de tudo e de todos.

A polêmica continuou, agregando novas proposições, vindas de diferentes fontes, para substituir o anglicanismo: “elocutor”, “orador”, “falante”, “aulete”, “vozeiro” ou a forma aportuguesada “espíquer”. Mas, no final, o tempo e o uso consagraram a palavra sugerida por Abílio de Castro. O próprio Mario Melo acabaria se dando por vencido, em coluna publicada no Diário de Pernambuco:


Mário Melo dá o braço a torcer (23 de setembro de 1933)
Fonte: Diário de Pernambuco. Recife, 23 set. 1933. p. 1.


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