A
aposentadoria de Armindo Antônio Ranzolin,
o principal narrador do rádio gaúcho
2017
Embora postado em 2017, este texto não
foi atualizado em relação à versão original escrita em cima da notícia de quase onze anos antes. A emoção daquele momento segue a mesma. E o texto também.
Luiz Artur Ferraretto
Ranzolin no comando do Gaúcha Atualidade (26 de julho de 2002)
Da esquerda para a direita, Armindo Antônio
Ranzolin, Luiz Felipe Scolari, Lauro Quadros e Ruy Carlos Ostermann.
Fonte: Zero
Hora, Porto Alegre, 27 jul. 2002. p. 48.
1975, o Internacional conquista pela
primeira vez o Campeonato Brasileiro de Futebol. 1976 é o bi. 1981, o Grêmio
chega lá, vencendo o Brasileirão. 1983, vai mais longe, é o campeão da Taça
Libertadores da América. Mais longe ainda e se torna o primeiro clube do Rio
Grande do Sul a conquistar um título mundial. Sem falar outros jogos, outras
coberturas, do esporte à política, em todas elas, Armindo Antônio Ranzolin.
Quinta-feira, dia 6 de dezembro de 2006.
Estúdio da Rádio Gaúcha, Porto Alegre, programa Gaúcha Atualidade. Ranzolin, titular do programa desde agosto de
1992, não está mais lá. No final da tarde, uma nota da Rede Brasil Sul de
Comunicação anuncia a aposentadoria, aos 69 anos de idade, de um dos mais
importantes profissionais do rádio do Sul do país.
Mas a voz clara e precisa de Armindo
Antônio Ranzolin vai seguir presente na memória dos seus ouvintes como o
narrador das maiores conquistas do esporte do Rio Grande do Sul, com passagens
não só por esta função, mas também por cargos de chefia em emissoras de rádio
como a Difusora, a Farroupilha, a Guaíba e a Gaúcha. Afinal, são quase cinco décadas,
boa parte deste período como um dos principais nomes das jornadas esportivas do
Sul do país. Sou uma destas tantas pessoas que cresceram escutando-o e, por
isto, me arrisco aqui a um depoimento inteiramente pessoal e nada jornalístico.
Quando eu era um guri de merda como tantos
outros que as universidades despejam, semestre a semestre, no mercado, cheios
de convicções e certezas, sem experiência alguma, conheci o Ranzolin de forma
prosaica. Eu era um fedelho, destes que seguem abundantes nas redações de hoje,
vendo na experiência um problema e não uma solução. Ah, a arrogância dos
ignorantes! Óbvio que, de experiência, nada possuía. Então, supria a falta
desta com sobras daquela e um olharzinho de dúvida a fingir senso crítico e
pitadas de niilismo infanto-juvenil.
Lembro que, selecionado como free-lancer para a cobertura das
eleições de 1986, acabei chegando para uma reunião bem antes do horário. Logo
em seguida, apareceu o Ranzolin, voz perfeita e quase dois metros de altura. O rosto eu
conhecia da RBS TV, onde na época ele mantinha um comentário diário. Se não
fosse por isto, eu o identificaria, como todo o Rio Grande, pela voz. Eu estava
nervoso e fiquei mais ainda. Ele, ao contrário, leu inexperiência no guri e
talvez alguma capacidade profissional futura. Ranzolin, de forma muito amável,
foi, então, me explicando todo o funcionamento do sistema informatizado a ser
utilizado na cobertura e, de lambuja, me deu alguns conselhos sobre reportagem.
Fiquei calmo e – acho – fiz um bom trabalho, acabando por ser contratado em
definitivo, dias depois. Anos mais tarde, quando eu havia pedido demissão na
Gaúcha para iniciar minha carreira como professor, recordo conversa semelhante
nos corredores da rádio, ele insistindo para que eu desistisse da decisão já
tomada. Recordo também, com orgulho, de ser entrevistado pelo Ranzolin, um
apaixonado por rádio. Mais carinho ainda, no dia da defesa de minha tese de
doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, quando ele ligou
confirmando que estaria presente. São pequenas coisas, que dão a dimensão
verdadeiramente humana dos grandes profissionais. E fazem com que eu sinta
muita falta da voz de Armindo Antônio Ranzolin ao microfone da Rádio Gaúcha, da
Rádio Guaíba, de qualquer rádio. Como naquelas tardes, mais guri ainda, sentado
no chão brincando, lá em
Rio Grande , na casa dos meus velhos, comecei a me dar conta
da existência do rádio, meu irmão estudando e acompanhando jogos e mais jogos
de futebol, ouvido colado no radinho National, voz do Ranzolin preenchendo o ambiente
com a “Grande Rede Ipiranga dos Esportes”.
Se falo de lembranças específicas e minhas,
há que registrar as de todos. Esta, por exemplo. Que narração em 3 de maio de
1981, jogo em que o Grêmio vence por 1 a 0 ao São Paulo! Que narração, Ranzolin!
Armindo Antônio Ranzolin (narrador) – Paulo Isidoro
arrancou no campo de ataque, prendendo a bola como convém, deixando respirar a
sua meia-cancha. Entregou, agora, para Paulo Roberto. Paulo Roberto levantou.
Chuveiro na área para Renato Sá. Subiu para cabeçada, atrasou para Baltazar...
Matou no peito, experimentou, uma bomba, atirou... Gooooooooooooooooooooooool
do Grêmio! Baltazar! Dezenove minutos e 35, no segundo tempo! Gol do iluminado,
Baltazar! Gol do Chuteira de Ouro! O Grêmio faz 1 a 0 contra o São Paulo! Zero
a zero serve! Um a zero, senhores, pode fazer do Grêmio, com 77 anos, campeão
brasileiro em 1981! Cristalizou o Morumbi! Está derretendo o iceberg! O Grêmio está transformando o iceberg em picolé – e muito gostoso –
no Morumbi, João Carlos Belmonte...
João Carlos Belmonte (repórter) – Quando ele perdeu o
pênalti em Porto Alegre ,
no final da partida ele disse para a Guaíba: “Deus está reservando algo melhor
para mim”. Estava com a razão! Renato Sá se deslocou pelo comando do ataque,
cabeceou para trás, Baltazar dominou no peito e, antes que a bola caísse,
emendou em um sem pulo sensacional! Venha comigo, ouvinte da Guaíba, e repita
comigo, torcedor gremista: Grêmio 1, São Paulo 0! Campeão do Brasil, se Deus
quiser!
Antônio Augusto (plantão) – É o décimo gol de
Baltazar em 21 jogos. Gol 32 do Grêmio, que, agora, precisa o São Paulo fazer
dois.
Lauro Quadros (comentarista) – Olha, zero a zero já
servia. Um a zero é sensacional, mas não precisava ser golaço. Pegou na veia.
Foi de voleio. Foi na gaveta com Valdir adiantado. Mas, importante: Renato Sá
entrou e, em seguida, fez este jogadaço, a deixa de cabeça para Baltazar
estufar as redes. A participação de Renato Sá. O São Paulo, agora, vai ficar
louco, maluco, atucanado. Ótimo para o Grêmio, Ranzolin...
Por momentos como este, Ranzolin, que já
estava afastado da narração esportiva desde a segunda ida do Grêmio a Tóquio,
vai fazer muita falta. Que outros guris, como aquele Ferraretto, o de 1986,
tenham a certeza disto! Este, de 20 anos depois, não tem a menor dúvida! E vai
repetir sempre, me perdoem todos os demais: Armindo Antônio Ranzolin é o
principal narrador esportivo da história do rádio do Rio Grande do Sul, um
digno continuador de um Cândido Norberto, de um Mendes Ribeiro, de um Pedro Carneiro
Pereira... Do final dos anos 1950 até a semana passada, sempre nos microfones,
agora na memória, provando, como os citados, que ele é mesmo insubstituível.
Ranzolin comanda a equipe da Guaíba na narração do gol do Grêmio sobre o
São Paulo (3 de maio de 1981)
Fonte: RÁDIO GUAÍBA. Grêmio –
Campeão brasileiro 1981. Porto Alegre, 1981. LP.
Aquele meu mestre era fantástico e continua sendo pois o aprendizado com ele não se apaga(Paulo Martins)
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