Museu Hipólito José da Costa:
no novo século, velhas dificuldades
2015
Paloma Fleck

Lâmpadas queimadas, acervo coberto por lixo, paredes com infiltrações, telhado  e chuva caindo em cima de jornais raros. Foi nesse estado precário que Yuri Victorino assumiu, em maio de 2015, a diretoria do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.

– Sabe O Fantasma da Ópera? Isso aqui parecia o teatro maldito – brinca Claus Farina, coordenador do Setor de Rádio e Fonografia.

Mutirão de limpeza no Museu de Comunicação
Fonte: Facebook Yuri Victorino

O prédio, que pertenceu ao jornal do Partido Republicano Rio-grandense A Federação, estava com sérios problemas. Como descreve Yuri Victorino:

– Eu cheguei aqui e não tinha água no prédio há 12 dias. Ao mesmo tempo, o telhado estava todo quebrado e furado. Caia água literalmente dentro e em cima de jornais de 1800, raros, que só tem aqueles aqui... No mundo todo, só existem aqueles exemplares. E, na parte do subsolo do prédio – este prédio fica na beira de um morro – verte água naturalmente. Tem uma espécie de piscina submersa, que é onde coleta essa água, não só da chuva como fluvial. Então tem um sistema de bombas que retira a água constantemente. Aquilo não funcionava há três anos. Tinha meio metro de água em baixo do porão, que, de fato, não é um porão. É uma sala de exposição com o acervo do Instituto Estadual de Cinema... Equipamentos raríssimos, uma coleção de 300 latas de filmes... Tudo em baixo da água, boiando.

Yuri Victorino, diretor do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa
Entrevista realizada por Paloma Fleck em outubro de 2015.


Mutirão de limpeza no telhado do Museu de Comunicação
Fonte: Facebook Yuri Victorino

A reforma estrutural e a limpeza do lixo depositado foram as medidas emergenciais da nova gestão. Yuri virou uma espécie de faz tudo do museu. Ele mesmo trocou as lâmpadas, subiu no telhado para consertar os furos e retirou o carpete que estava há 20 anos sem higienização.

– O que tiver que fazer eu faço. É um diamante que tem que ser lapidado. Aqui somos oito pessoas apaixonadas por isso. Recurso a gente não tem. A gente tem cérebro e tem boa vontade.
Em 6 meses foram retiradas cinco toneladas de lixo que lotavam as salas. Eram objetos deteriorados, móveis velhos, equipamentos estragados, peças perdidas por armazenamento inadequado....


– A gente descobriu uma pedra litográfica do processo de impressão dos anos de 1800 no meio disso tudo. Estava apoiando uma porta que já tinha quebrado e não funcionava.


O diretor Yuri Victorino e a pedra litográfica encontrada durante a limpeza do museu
Fonte: Facebook Yuri Victorino

O museu conta apenas com oito funcionários, que se desdobram para canalizar esforços nas ações de reestruturação da casa. O grupo é pequeno, mas coeso. Os funcionários de cada setor se reúnem semanalmente para planejar os próximos passos. Em uma destas reuniões, surgiu a ideia de interligação das áreas de exposição. A nova proposta é trabalhar a informação do acervo não apenas em um objeto, mas no relacionamento destes dentro da comunicação. O diretor do museu explica que é fazer, por exemplo, conversar a publicidade com a televisão. Segundo Yuri Victorino, uma instituição como o Hipólito não deve ser um depósito de objetos individuais e sim a contextualização e o reflexo de uma história resgatada pela memória que ali está preservada.  Até 2018, a direção do museu pretende inventariar o acervo e criar um banco de dados que facilite o acesso ao material.

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