Atenção, âncoras!
14 de julho de 2017
Luiz Artur Ferraretto
No rádio, a quem serve a confusão entre
fato, notícia e comentário? Antes de ir diretamente ao assunto, faz-se
necessário estabelecer do que, efetivamente, cada uma dessas palavras dá ou não
dá conta. Fato é a realidade em si e, portanto, impossível de ser descrita
totalmente, em função de fatores como a sua duração, o contexto em que ocorre,
a localização do observador em relação ao ocorrido, a presença ou não de um
narrador tecnicamente habilitado etc. Resumindo
muito: notícia constitui-se no relato desse fato, concentrando-se o foco sobre
aquilo a respeito do qual se supõe o público tenha interesse. Que poder, hein? Comentário, obviamente, trata-se de uma opinião a respeito do
fato e, no caso do jornalismo, exige a observância de determinados padrões
técnicos resumidos na ideia algo solta de estar embasado em indícios e provas.
A atividade do
âncora, de espaço crescente nas emissoras de rádio, mistura fato, notícia e
comentário. Na decadência técnica provocada, de um lado, por uma formação
distanciada da realidade profissional, e, de outro, pela extrema redução de
postos de trabalho, a condução de programas foi se transformando em um monólogo
ou, no caso de participantes fixos, em um diálogo entre pares. Uma das causas
está na desvalorização do trabalho do produtor, reduzido à marcação de umas
poucas entrevistas e à leitura de informações tiradas de sites ou de redes
sociais. Isso, fique claro, quando existe um produtor. Em outras palavras,
alguns profissionais ocupam com suas opiniões o espaço que, antes, cabia ao
diálogo com especialistas, protagonistas ou testemunhas e mesmo aos boletins de
repórteres.
É um perigo. E
um desafio. De fato, vários desafios. Manter o equilíbrio em relação aos
diversos segmentos sociais. Deixar claro o que é posicionamento e o que é
relato do fato. Fugir das simplificações. Ser bombardeado, diariamente, pelas
pressões inerentes à função. Fazer aquilo que, valorizada a função social da
outorga dada à emissora pelo Estado, é considerado um bom trabalho.
Há a
acrescentar ainda certo tipo de entrevista que pouco tem contribuído para o
esclarecimento dos fatos. Trata-se das concedidas – quando concedidas – por figuras como, em
ordem alfabética, Aécio, Bolsonaro, Dilma, Lula, Moro, Temer e assemelhados,
todas escolhendo a dedo seus interlocutores para que aquela pergunta necessária
seja esquecida. Há, com certeza, exceções. O jornalismo sempre depende da
questão que incomoda. A democracia, de sua parte, deveria viver do revelado e
não do escondido. Do fato e não de opiniões convertidas ou confundidas com
notícias.
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