Invasão ou ocupação
19 de julho de 2016
Luiz Artur Ferraretto


Sem uma resposta exata, sobram ideologia e intenções nada corretas. Um aluno pergunta-me sobre o uso das palavras “invasão” e “ocupação” em jornalismo. Entre o macartista sempre pessimamente posicionado à direita e o patrulheiro ideológico sempre equivocadamente se revestindo de boas intenções colocado à esquerda, sobra um jornalismo destituído de sua base mais elementar: a dúvida.

As duas palavras fazem parte da realidade brasileira. Um grupo de sem-terra vai preferir dizer que ocupou uma fazenda improdutiva. O dono desta optará certamente por dizer que os integrantes do mesmo MST invadiram a área. Por trás disto, independentemente de um ou de outro, estará uma das mais desiguais distribuições de terras rurais do mundo. E duvidar do aparente será instrumento fundamental do verdadeiro profissional.

Particularmente, com o maior cuidado do mundo, eu procuraria utilizar o termo “invasão” e as flexões do verbo “invadir” para o que for propriedade privada. Usaria “ocupação” e as formas do verbo “ocupar” para o que for público. Neste último caso, observo que não se pode invadir o que já pertence a todos.

É claro que existe uma diferença entre o trabalho do repórter e o do âncora. Quem está no palco de ação dos acontecimentos não pode ultrapassar o terreno do jornalismo informativo - o fato em si - ou do interpretativo - o da contextualização do fato ao apresentar causas e consequências. O problema reside no âncora que acrescenta outro gênero a estes dois gêneros: o opinativo. Se carece de ética e transborda ideologia - geralmente, posicionada à direita -, aproveita para narrar uma versão distorcida a respeito do ocorrido. Traveste de informação o que, em realidade, não passa da sua opinião. Isto difere de uma análise propriamente opinativa. Esta última deveria estar baseada em argumentos racionais e não em um discurso do tipo é-porque-é.

Em 2016 e em um país sério, tais desvios seriam tema de debates em comitês de ética. No Brasil da falta de razão e de sobradas manipulações emotivamente motivadas em busca de likes, apenas acirra pequenos ódios e fortalece a ignorância do ouvinte. E serve a interesses que podem ser de uma parcela poderosa da sociedade, normalmente mais propensa a conceder uma benesse ou algum patrocínio.

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