O rádio e o consultório de Breno Futuro
2008
Luiz Artur Ferraretto

O odontologista Breno Martins Futuro, falecido no dia 15 de maio de 2008, era, acima de qualquer coisa, um apaixonado pelo rádio. Orgulhava-se de ser também um dos primeiros a difundir a fluoretação na água como medida preventiva para combater a cárie. A paixão pelo rádio, no entanto, não saía da sua cabeça. Entrou no negócio como genro de Arthur Pizzoli, o fundador da Difusora Porto-alegrense e, de certo modo, o primeiro empresário do setor no Rio Grande do Sul. Afinal, foi Pizzoli que anteviu as possibilidades do veículo para a publicidade, criando também aquela PRF-9, estação pioneira ao ser pensada como empresa em busca de lucro. Com a aquisição da Gaúcha pelo ex-gerente da Casa Coates, Futuro foi se envolvendo cada vez mais diretamente com o rádio, tanto que, mesmo após a morte do sogro e a venda da participação do restante da família, ele permaneceria no negócio. E guardaria daquele período uma recordação corporificada até nas paredes do seu consultório.

De fato, a transferência da Gaúcha dos herdeiros de Pizzoli para a Comercial, Industrial, Representações, Exportações e Importações S.A., a Cirei, começa como a maior negociação da história do rádio do Sul do país e termina com a emissora sucateada, sendo vendida em 1957. Seis anos antes, em 1951, no entanto, tudo era empolgação e perspectivas. A boca pequena, comentava-se a participação de João Belchior Marques Goulart, o Jango, então deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro. A proximidade com o governo de Getúlio Vargas vai garantir, de início, a vinda de atrações da poderosa – e sob controle da União – Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. O suicídio do presidente e as dificuldades financeiras crescentes da Cirei vão levar o empreendimento ao fracasso.

Breno Futuro, na década seguinte, voltaria ao rádio na Itaí, na Caiçara e até tentaria uma concessão de TV, a do canal 4, obtida, no final, pelo empresário Otávio Dumit Gadret. Viveria sempre, de certo modo, cercado pelo rádio. No consultório da avenida Salgado Filho, centro de Porto Alegre, chapas de Eucatex acústico garantiam o isolamento sonoro. “São as que sobraram da velha Gaúcha”, respondia o seu Breno Futuro a quem notava a coincidência. E dava uma risadinha saudosa.

3 comentários:

  1. Ontem quando iniciou a série na Globo, Nada Será como Antes, lembrei muito dele e de suas histórias sobre as rádios em que trabalhou. Saudades

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    1. Agradeço o compartilhamento deste sentimento com os leitores do Uma História do Rádio no RS. Grande abraço.

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    2. Belo regatear da história. Abrs

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