De empregado a patrão, a transição de Maurício Sirotsky Sobrinho
2007
Luiz Artur Ferraretto

Arnaldo Ballvé e Maurício Sobrinho (julho de 1957)
Fonte: Folha da Tarde, Porto Alegre, 3 jul. 1957. p. 32.

Junho de 1957. Um desafio coloca-se à frente de Maurício Sobrinho, que do nome artístico omite então o sobrenome Sirotsky. Deixando o posto – muito confortável, diga-se de passagem – de principal animador de auditório na principal rádio do estado, a Farroupilha, ele começa a transição de empregado para patrão.

Junto com Arnaldo Ballvé, proprietário das Emissoras Reunidas, um grupo, na época, de 15 estações de rádio do interior gaúcho, Maurício é o nome mais conhecido da nova composição acionária da PRC-2 – Rádio Gaúcha, assumindo ainda o cargo de diretor da emissora. A relação entre os dois começara em 1946, quando Ballvé montou a Rádio Passo Fundo, colocando na gerência Maurício, então um dos locutores da Propaganda Sonora Guarany, o serviço de alto-falantes que funcionava no centro da cidade. Em junho de 1950, criam juntos a Rádio Publicidade, voltada à representação comercial, em Porto Alegre, das Emissoras Reunidas e outras estações do interior do Rio Grande do Sul. Sete anos depois, sem a participação de Ballvé, Maurício Sobrinho, com outros sócios, inaugura a Mercur Publicidade, negociando, em seguida, sua parte na agência em troca de títulos para participar da compra da Gaúcha, até então controlada pela Comercial, Industrial, Representações, Exportações e Importações S.A. (Cirei), que, por sua vez, adquirira a estação dos herdeiros de Arthur Pizzoli. A PRC-2, embora não possua grandes dívidas, fatura pouco mais da metade do que gasta para se manter funcionando. No negócio em que é sócio minoritário, Maurício começa a se transformar no principal empresário do setor de comunicação de massa do Sul do país, à medida em que vai criando a Rede Brasil Sul. Nos primórdios da RBS, mescla esforço, aproveitamento dos recursos existentes, prestígio pessoal e uma certa dose de intuição e ousadia.

No dia 3 de julho, às 21h35, os novos proprietários da Gaúcha anunciam ao microfone da PRC-2 a sua integração às Emissoras Reunidas, formando no futuro, como registram os jornais, “a primeira grande cadeia fixa do Rio Grande do Sul”, o que nunca vai se efetivar. Conforme registro da Junta Comercial, duas semanas depois, no dia 18, uma Assembleia dos acionistas da Rádio Sociedade Gaúcha S.A. efetiva a reestruturação societária. Arnaldo Ballvé fica com 51% do negócio, com o restante dividido em três partes iguais entre Frederico Arnaldo Ballvé, Maurício Sobrinho e Nestor Rizzo.

Pelo seu passado nas Reunidas, o novo diretor geral da Gaúcha não é um profissional avesso à administração do rádio como empresa. No processo de transformação do radialista do início do mês de junho para o radiodifusor 30 dias depois, Maurício Sobrinho carrega consigo a intuição com a qual escolhia, antes, as atrações do seu programa e segue, a partir de então, definindo o rumo dos seus negócios. Conhecedor do meio artístico, aproveita, de início, profissionais remanescentes do elenco da Gaúcha. Assim, o humorista Carlos Nobre ganha espaço e – baseado no Miss Campeonato, da Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro – cria o Campeonato em Três Tempos, um grande sucesso de público. Ele valoriza também o maestro Karl Faust, reestruturando em torno dele a orquestra da Gaúcha.

De certa forma, Maurício Sobrinho – ele próprio um dos principais trunfos da PRC-2 – começa a confundir a sua imagem com a da emissora. Se, de um lado, administra a rádio, de outro, vai em busca da audiência, colocando ao microfone o seu prestígio de melhor animador do Rio Grande do Sul na época, conforme o tradicional concurso promovido na época pela Revista TV. Logo depois da compra da Gaúcha, por exemplo, como registra esta publicação, o diretor da PRC-2 conduz, aos domingos, das 10 às 12h, Grandes Espetáculos Dominicais, “cantores, cortinas cômicas, brincadeiras, prêmios e a participação de um cartaz da radiofonia paulista ou carioca”; e, das 18h30 às 19h30, Calouros Anil Ideal, espaço para “a participação de aspirantes ao rádio”.

Tudo vale, na época, para chamar a atenção. Um exemplo é a iniciativa de Maurício no final da década de 1950, logo após a instalação da segunda estação das Reunidas na capital. Contando com a boa vontade do ouvinte, que necessita de dois receptores e colocando um canal de transmissão na Gaúcha e o outro na recém-inaugurada Porto Alegre, o diretor da PRC-2 realiza, assim, a primeira transmissão com som estereofônico do estado, cujo efeito prático ficaria reduzido ao de uma mera curiosidade.

Maurício Sirotsky Sobrinho (12 de fevereiro de 1983)
Entrevista realizada por Rochele Hudson na Rádio Jornal do Comércio.
Fonte: Acervo da Rádio Gaúcha.

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