Luiz Mendes, o homem do “golaço”
2013
Gustavo Monteiro Chagas
Estudante de Jornalismo (UFRGS)

Golaço, expressão unânime para definir um belo gol no futebol. Seja no Norte ou no Sul do país, do melhor ou do pior jogador, um gol bonito é, simplesmente, um golaço. E é devido a Luiz Mendes. O radialista gaúcho fez história no Rio de Janeiro e criou (ou importou) a expressão que até hoje é usada pelos torcedores. Nos seus quase 70 anos de carreira no rádio, Mendes imortalizou bordões – como “minha gente”, ao chamar os ouvintes – e criou o “Folha-seca”, apelido do jogador Didi. Mais marcante, sem dúvida, pela popularidade que alcançou, foi a importação do golazo dos narradores castelhanos que ele ouvia na infância. Mendes usou a expressão pela primeira vez na sua estreia como principal narrador da Globo, em um jogo entre Fluminense e Bonsucesso. Assim nascia o “golaço” nosso de cada final de semana de futebol.

Luiz Mendes (24 de maio de 2011)
Fonte: Acervo particular de Roger Bell.

Nascido em Palmeira das Missões, no Noroeste do Rio Grande do Sul, em 6 de junho de 1924, Luiz Mendes tinha um destino quase certo. Seria no futebol (contra a vontade do pai) ou no rádio. Logo, com dez anos de idade, inclinou-se para o primeiro, atuando como árbitro em partidas entre clubes de Carazinho. Quando sua família foi morar em Ijuí, jogou no clube da cidade, o São Luiz. Na adolescência, dividia o tempo do esporte com o serviço no jornal Correio Serrano e, depois, no jornal Alerta, fundado por ele mesmo. Mas foi por um acaso que Luiz seguiu para o meio de seus sonhos. Ouvindo uma conversa entre dois senhores, descobriu que seria lançado um sistema de alto-falantes em postes em Ijuí. Ofereceu-se para ser locutor e ganhou o emprego. Três meses depois despertou atenção do dono de uma estação de rádio da cidade de Santo Ângelo, a Rádio Missioneira. Lá, trabalhou como locutor de anúncios comerciais e ainda organizava os discos que fariam parte da programação da emissora. Nascia, assim, um dos principais profissionais do rádio brasileiro.

Aos 18 anos, Luiz veio para Porto Alegre. Chegou e logo descobriu um anúncio da Rádio Farroupilha, convocando locutores esportivos para um teste. Observado por Heron Domingues, Manoel Braga Gastal e Walter Ferreira, o teste do jovem seria o que ele já havia feito muitas vezes na infância: simular a narração de um jogo, um Grenal. Com medo de narrar um gol e desagradar aos ilustres observadores (e suas paixões clubísticas), Mendes enrolou até ouvir um pedido: um gol de Tesourinha, craque do Internacional na época. Como Walter, Manoel e Heron eram todos torcedores do clube, o pedido foi o que bastou para Luiz gritar um gol colorado.

Efetivado na emissora de Porto Alegre, Luiz Mendes ganhou, dos ouvintes, o apelido “Menino de ouro”, tamanha sua popularidade. Entre os colegas, virou o “Craque da palavra”. Em 1944, há meses sem receber pelos serviços prestados à Farroupilha, Luiz foi enviado para cobrir um jogo em São Paulo. De lá, partiu para o Rio de Janeiro, decidido a não voltar ao Rio Grande do Sul.

Na então capital do país, Luiz procurou emprego na Rádio Nacional, a mais popular da época. Não conseguiu por ainda carregar na fala o “erre” tradicional dos gaúchos do interior. Resolveu, então, procurar uma vaga em uma rádio que ainda não existia. A Rádio Globo seria inaugurada no dia seguinte e Luiz decidiu se apresentar aos diretores da emissora. Com o antecedente de ter trabalhado na Farroupilha, uma das principais emissoras do país, foi contratado imediatamente. Lá, começou como locutor comercial e apresentador. Em 1947, assumiu a titularidade na narração esportiva da emissora, após uma proposta de Roberto Marinho. Luiz seguiu na Globo por décadas, fazendo um pequeno intervalo nos anos 1990, quando integrou o time da Rádio Tupi do Rio de Janeiro, acabando, anos depois, voltando a sua casa. Habilidoso com as palavras, deixou de ser o “Craque”, em Porto Alegre, para virar o “Comentarista da palavra fácil”, no Rio.

Capa do livro Minha gente – Luiz Mendes, o mestre da crônica esportiva do Brasil (2010)

O narrador e comentarista esportivo foi casado com a atriz, radialista e política Daisy Lucidi. Botafoguense e gremista, cobriu 13 copas do mundo. Em 2010, a escritora Ana Maria Pires lançou o livro Minha gente – Luiz Mendes, o mestre da crônica esportiva do Brasil, com relatos e comentários do próprio jornalista. Luiz Mendes faleceu em 2011, aos 87 anos.

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