Cidade FM: a revolução do rádio jovem chega ao sul do país
2006
Luiz Artur Ferraretto


Luiz Antônio Borba, o Lua, na Rádio Cidade FM (dezembro de 1979)
Fonte: YouTube.

Em Porto Alegre, no dia 15 de novembro de 1979, com a inauguração da Cidade FM, substituindo a Cultura Pop, a primeira a apostar no segmento, o ouvinte gaúcho toma contato com o bem-sucedido modelo introduzido no país, dois anos antes, pela emissora carioca de mesma denominação, também pertencente ao Jornal do Brasil e que se inspira nas rádios jovens dos Estados Unidos. A experiência da Cidade FM, do Rio de Janeiro, como observa a revista Veja, algum tempo depois, em junho de 1984, é decisiva para a consolidação da frequência modulada em termos comerciais:

[...] para a definitiva explosão das FMs, ainda faltava um passo. E esse passo tem data e local precisos: foi dado em 1977, no Rio, com a inauguração da Rádio Cidade. De repente, aparecia uma emissora que não se limitava a enfileirar três, quatro, cinco músicas seguidas e anunciá-las com uma voz impessoal. Pela primeira vez no Brasil, seguindo o estilo popularizado nas congêneres dos EUA, apareciam nas FMs locutores soltos, sempre com o humor em plena forma, hábeis em combinar vozes de veludo com uma permanente eletricidade na locução. Eles estabeleciam um contato direto e estimulante com o público – e, ainda por cima, apresentavam apenas os grandes sucessos, e não a música repousante que fazia o grosso da programação até então.

Na realidade, o que aconteceu – e isso tem fundamental importância, neste processo todo – foi a FM que descobriu o jovem.

A Cidade FM chega em Porto Alegre, no dizer de Antônio Carlos Niederauer, então coordenador de programação da emissora na capital gaúcha, para “tirar a gravata do locutor”, que, a todo momento, simula uma conversa com o ouvinte. A informalidade vai, a partir daí, ganhar espaço na frequência modulada do Rio Grande do Sul. Na expressão de um ouvinte da época, citada por Niederauer em depoimento ao Projeto Vozes do Rádio da PUCRS, a Cidade é, então, a rádio “onde o locutor espirra e quem está escutando diz saúde”.

A apresentação descontraída associada à veiculação de sucessos musicais faz com que, em seguida, a emissora ligada ao Sistema Rádio Jornal do Brasil, da família Nascimento Britto, lidere a audiência, alterando o panorama do rádio em frequência modulada no Rio Grande do Sul. O FM começa, assim, a atrair o público jovem. Até 1984, embora apresentada por comunicadores locais, a programação musical vem pronta do Rio de Janeiro. Neste ano, em torno de 50% do conteúdo ficam sob responsabilidade da filial, que enfrenta, então, a concorrência da Atlântida, pertencente à Rede Brasil Sul, e da Universal, controlada pela Rede Rio-grandense de Emissoras.

O esforço da RBS para derrubar os altos índices de audiência da Cidade FM vai se estender por toda a década de 1980. Pondo fim a esta situação, em meio à crise dos empreendimentos dos Nascimento Britto, o grupo da família Sirotsky adquire, em 1990, a emissora em uma espécie de interpretação ao contrário do dito popular:

– Se não consegue vencê-lo, una-se a ele.

No caso, compre-se ela.

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