Rogério Mendelski e o Gaúcha Hoje
2015
Luiz Artur Ferraretto
Rogério Mendelski (2002)
Fonte: Press, Porto Alegre, n. 22, p. 6 , 2002.

Ao longo dos quatro anos em que Olívio Dutra governou o Rio Grande do Sul, Rogério Mendelski tinha dois tipos de ouvintes: quem sintonizava a Rádio Gaúcha por concordar com suas incansáveis críticas à esquerda e ao Partido dos Trabalhadores e quem ligava na emissora para se irritar com estas mesmas críticas. Como consequência de sua habilidade verbal, o Gaúcha Hoje liderava, deste modo, a audiência no início da manhã, pelo menos até 7h, quando Sergio Zambiasi passava a ocupar o microfone da Farroupilha, e Mendelski caía para o segundo lugar.
Questões ideológicas à parte, o Gaúcha Hoje, de fevereiro de 1987 até novembro de 2002, constitui-se no mais bem acabado exemplo de programa essencialmente calcado na opinião de seu apresentador. Ao microfone, Rogério critica os sem-terra, as greves do magistério estadual, os defensores das estatais, enfim, faz a pregação do liberalismo econômico em linguagem direta e, sem alterar o tom de voz, bastante agressiva.Até novembro de 2002, ganhando mais meia hora na parte final em 1988, as posições defendidas pelo apresentador dão a tônica acima de quaisquer outros tipos de conteúdos veiculados, qualificando o Gaúcha Hoje como um programa de opinião, aquele no qual o lado opinativo do apresentador predomina, tornando-se este a atração principal, secundada por comentaristas e mesmo repórteres.
Na virada do século, quando se acirram os ânimos políticos no estado entre dois polos bem delimitados, um representado pelo governo de Antonio Britto Filho (1995-1998), do PMDB, identificado com as posturas do neoliberalismo, e outro pelo de Olívio Dutra (1999-2002), do PT, colocando-se à esquerda e se propugnando como socialista, as opiniões de Mendelski, não raro, geram reações diversas junto ao público, ao ponto de ser chamado pela imprensa de “a voz polêmica do rádio”. Ao microfone, poucas vezes alterando o tom de voz, normalmente calmo, o apresentador defende, basicamente, a economia de mercado, a livre iniciativa e a propriedade privada, pilares do sistema capitalista, posições que, cabe lembrar, vão ao encontro, na época, daquilo que a Rede Brasil Sul considera como seu ideário e expressa no documento Normas Editoriais, divulgado então. Assim, a partir deste enfoque, movimentos grevistas, ocupações de áreas rurais por colonos sem-terra, eventos antiglobalização e medidas liberalizantes na área de segurança pública tornam-se alvo constante de fortes críticas do jornalista, a maioria delas eivada de consideráveis doses de ironia e sarcasmo. No final de 2002, um pouco antes de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, à frente de uma frente partidária de centro-esquerda, assumir a Presidência da República, Mendelski é dispensado pela RBS. Edgar Lisboa e Demétrio de Azevedo Soster registram, assim, a saída do comunicador em reportagem publicada no semanário ABC Domingo:
Metade do estado gostava de ouvir a voz de Rogério Mendelski, ex-RBS, nas primeiras horas da manhã em seu programa Gaúcha Hoje. A outra metade o odiava. Ódios e amores à parte, o fato é que, todos os dias, cerca de 50 mil pessoas por minuto (o programa durava duas horas) deixaram de escutar diariamente uma das vozes mais polêmicas do radiojornalismo gaúcho (...): sob a alegação de que os novos tempos exigiam formatos mais leves, Mendelski foi demitido depois de 15,9 anos de empresa. Antes disso, foi suspenso sob acusação de ter faltado com o respeito para com um dos anunciantes de sua ex-empresa. 
Como registrara dias antes, em 26 de novembro de 2002, o portal Coletiva, o anunciante, no caso, era a TIM. Ao comentar uma reclamação a respeito da empresa, Rogério Mendelski aconselhou o ouvinte a optar pela Telefônica Celular, uma das patrocinadoras do Gaúcha Hoje. A TIM, anunciante em outros espaços da programação, protestou, acarretando a suspensão e, em seguida, a demissão do apresentador.
A contundência de Rogério, no entanto, ficava mesmo para o microfone. No dia a dia, Mendelski demonstrava extrema cordialidade, sendo considerado um excelente colega de trabalho mesmo por seus companheiros de outros campos ideológicos. A respeito, aliás, registrava o site da revista Press, na época:
 Na TV COM e na RBS TV o clima hoje foi de tristeza. Justifica-se: Rogério, apesar de passar uma imagem de "duro" no ar, no dia a dia está sempre brincando – os colegas, para ele, são grandes amigos.As próprias estrelas da RBS consideram que foi um equívoco a "aposentadoria antecipada" do comunicador. E, além disso, está dando bala para a concorrência.
A saída de Mendelski levaria Antônio Carlos Macedo para o comando do Gaúcha Hoje, com o programa adquirindo uma feição cada vez mais informativa e menos opinativa, além de apostar na intensa participação do ouvinte.


Rogério Mendelski defende a privatização da telefonia celular
Fonte: RÁDIO GAÚCHA. Gaúcha Hoje, Porto Alegre, 200-. Programa de rádio.

3 comentários:

  1. Uma correção: o provável ano da gravação deve ser 2001 ou 2002, por causa de um dos anunciantes (Cortezias Cabeleireiros, no Bourbon Country). O shopping Bourbon Country foi inaugurado em 2001 (Fonte: http://www.bourbonshopping.com.br/site/shopping_country.jsp?shopping=country). Fica o registro.

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  2. Agradeço imensamente a informação. Troquei, portanto, de 199-, que significa década de 1990 sem saber o ano, por 200-. Em realidade, Gabriel Neves, a gravação estava em uma velha fita VHS quase esquecida. Um abraço.

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  3. Comecei a ouvir rádio de notícias com 17 anos, em 2003, já com o Macedo no Gaúcha Hoje e Chamada Geral 1ª Edição, além de ter a oportunidade de ouvir os últimos momentos de José Barrionuevo, Armindo Antônio Ranzolin e José Aldair na Gaúcha entre 2003 e 2004. Até hoje sinto falta da "cortina musical" do Gaúcha Hoje naquela época. Era uma música da trilha sonora das Olimpíadas de Los Angeles em 1984.
    https://youtu.be/OCPI1sb02cs?t=9m

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