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 Claudio Monteiro e o Gaúcha Hoje
2015
Luiz Artur Ferraretto


Anúncio da Rádio Gaúcha com a programação matutina da emissora (março de 1985)
Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, 26 mar. 1985. Segundo Caderno, p. 10.



Esbanjando simpatia e bom humor, de 1978 a 1986, o radialista Cláudio Monteiro interage com os ouvintes, propondo-se a entreter, além de informar. É o programa Gaúcha Hoje, um dos mais antigos da grade de programação da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, que começa, assim, a sua trajetória de sucesso. Com o auxílio de recursos de sonoplastia, Monteiro explora, por exemplo, diálogos imaginários como o descrito por ele a seguir:

Eu criei personagens... Um deles foi o Coelho, baseado no da estória Alice no país das maravilhas. Uma coisa simples. O Coelho entrava assim, às 6h, porque o pessoal tinha de acordar para trabalhar: “É tarde. É tarde até que arde. Ai, ai, meu Deus. Alô, adeus. É tarde, é tarde, é tarde”. Eu dizia: “Gente, é tarde. São seis e dez”. Entrava o Coelho. Eu tirei isto do compacto do Alice no país das maravilhas. Eu não pensei que ia fazer um sucesso tão grande como fez. E eu dizia para ele assim: “Não, Coelho, para um pouquinho. Eu quero falar contigo”. E ele: “Não, não, não. Eu tenho pressa. Tenho pressa à beça. Ai, ai, meu Deus. Alô, adeus. É tarde, é tarde, é tarde”. A Alice chamava o Coelho Branco na estória. Ela dizia assim: “Olha só, um coelho de colete e de relógio. Seu Coelho, ôoo seu Coelho...”. E ele entrava: “Não, não, não...” Então, eu aproveitei isto no Gaúcha Hoje.

No clima do programa, além de outros personagens criados pelo comunicador, faz sucesso o quadro Começando bem, com José Paulo Bisol, uma espécie de crônica diária para iniciar o dia com uma mensagem positiva sempre introduzida pelo bordão “Bom dia, mano”. Quando Flávio Alcaraz Gomes assume a direção da Rádio Gaúcha, o programa ganha contornos mais jornalísticos, incluindo diversos comentaristas além de Bisol, que permanece explorando um foco comportamental. Há, entre outros, o de Cândido Norberto, ampliando os fatos do dia; o de Antônio Augusto, com o placar esportivo; e o de Paulo Sant’Ana, misturando a crônica do cotidiano em geral e os jogos de futebol.
Em 1986, Monteiro transfere-se para a Farroupilha, incorporada à RBS e, desde então, de perfil mais popular. Pela apresentação do Gaúcha Hoje, nas décadas seguintes, vão passar, entre outros profissionais, Geraldo Canali, Rogério Mendelski e Antônio Carlos Macedo.


Claudio Monteiro
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 28 de setembro de 2002.
Rogério Mendelski e o Gaúcha Hoje
2015
Luiz Artur Ferraretto
Rogério Mendelski (2002)
Fonte: Press, Porto Alegre, n. 22, p. 6 , 2002.

Ao longo dos quatro anos em que Olívio Dutra governou o Rio Grande do Sul, Rogério Mendelski tinha dois tipos de ouvintes: quem sintonizava a Rádio Gaúcha por concordar com suas incansáveis críticas à esquerda e ao Partido dos Trabalhadores e quem ligava na emissora para se irritar com estas mesmas críticas. Como consequência de sua habilidade verbal, o Gaúcha Hoje liderava, deste modo, a audiência no início da manhã, pelo menos até 7h, quando Sergio Zambiasi passava a ocupar o microfone da Farroupilha, e Mendelski caía para o segundo lugar.
Questões ideológicas à parte, o Gaúcha Hoje, de fevereiro de 1987 até novembro de 2002, constitui-se no mais bem acabado exemplo de programa essencialmente calcado na opinião de seu apresentador. Ao microfone, Rogério critica os sem-terra, as greves do magistério estadual, os defensores das estatais, enfim, faz a pregação do liberalismo econômico em linguagem direta e, sem alterar o tom de voz, bastante agressiva.Até novembro de 2002, ganhando mais meia hora na parte final em 1988, as posições defendidas pelo apresentador dão a tônica acima de quaisquer outros tipos de conteúdos veiculados, qualificando o Gaúcha Hoje como um programa de opinião, aquele no qual o lado opinativo do apresentador predomina, tornando-se este a atração principal, secundada por comentaristas e mesmo repórteres.
Na virada do século, quando se acirram os ânimos políticos no estado entre dois polos bem delimitados, um representado pelo governo de Antonio Britto Filho (1995-1998), do PMDB, identificado com as posturas do neoliberalismo, e outro pelo de Olívio Dutra (1999-2002), do PT, colocando-se à esquerda e se propugnando como socialista, as opiniões de Mendelski, não raro, geram reações diversas junto ao público, ao ponto de ser chamado pela imprensa de “a voz polêmica do rádio”. Ao microfone, poucas vezes alterando o tom de voz, normalmente calmo, o apresentador defende, basicamente, a economia de mercado, a livre iniciativa e a propriedade privada, pilares do sistema capitalista, posições que, cabe lembrar, vão ao encontro, na época, daquilo que a Rede Brasil Sul considera como seu ideário e expressa no documento Normas Editoriais, divulgado então. Assim, a partir deste enfoque, movimentos grevistas, ocupações de áreas rurais por colonos sem-terra, eventos antiglobalização e medidas liberalizantes na área de segurança pública tornam-se alvo constante de fortes críticas do jornalista, a maioria delas eivada de consideráveis doses de ironia e sarcasmo. No final de 2002, um pouco antes de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, à frente de uma frente partidária de centro-esquerda, assumir a Presidência da República, Mendelski é dispensado pela RBS. Edgar Lisboa e Demétrio de Azevedo Soster registram, assim, a saída do comunicador em reportagem publicada no semanário ABC Domingo:
Metade do estado gostava de ouvir a voz de Rogério Mendelski, ex-RBS, nas primeiras horas da manhã em seu programa Gaúcha Hoje. A outra metade o odiava. Ódios e amores à parte, o fato é que, todos os dias, cerca de 50 mil pessoas por minuto (o programa durava duas horas) deixaram de escutar diariamente uma das vozes mais polêmicas do radiojornalismo gaúcho (...): sob a alegação de que os novos tempos exigiam formatos mais leves, Mendelski foi demitido depois de 15,9 anos de empresa. Antes disso, foi suspenso sob acusação de ter faltado com o respeito para com um dos anunciantes de sua ex-empresa. 
Como registrara dias antes, em 26 de novembro de 2002, o portal Coletiva, o anunciante, no caso, era a TIM. Ao comentar uma reclamação a respeito da empresa, Rogério Mendelski aconselhou o ouvinte a optar pela Telefônica Celular, uma das patrocinadoras do Gaúcha Hoje. A TIM, anunciante em outros espaços da programação, protestou, acarretando a suspensão e, em seguida, a demissão do apresentador.
A contundência de Rogério, no entanto, ficava mesmo para o microfone. No dia a dia, Mendelski demonstrava extrema cordialidade, sendo considerado um excelente colega de trabalho mesmo por seus companheiros de outros campos ideológicos. A respeito, aliás, registrava o site da revista Press, na época:
 Na TV COM e na RBS TV o clima hoje foi de tristeza. Justifica-se: Rogério, apesar de passar uma imagem de "duro" no ar, no dia a dia está sempre brincando – os colegas, para ele, são grandes amigos.As próprias estrelas da RBS consideram que foi um equívoco a "aposentadoria antecipada" do comunicador. E, além disso, está dando bala para a concorrência.
A saída de Mendelski levaria Antônio Carlos Macedo para o comando do Gaúcha Hoje, com o programa adquirindo uma feição cada vez mais informativa e menos opinativa, além de apostar na intensa participação do ouvinte.


Rogério Mendelski defende a privatização da telefonia celular
Fonte: RÁDIO GAÚCHA. Gaúcha Hoje, Porto Alegre, 200-. Programa de rádio.
Antônio Carlos Macedo e as alterações no Chamada Geral e no Gaúcha Hoje
2014
Bruno Pancot

Comemoração dos 10 anos de Antônio Carlos Macedo à frente do Gaúcha Hoje (2012)
Fonte: Diário Gaúcho, Porto Alegre, 3 dez. 2012. p. 16.


Há 40 anos, o Brasil tinha apenas três títulos mundiais. Em São Paulo, o Edifício Joelma ardia em chamas e colocava em xeque a falta de prevenção a este tipo de ocorrência. Na Argentina, Juan Domingo Perón deixava para Isabelita a presidência. Os norte-americanos, por sua vez, acompanhavam a renúncia de Nixon. E, aqui, os generais trocavam cadeiras, de Médici para Geisel.

Este era o contexto de 1974, ano em que Antônio Carlos Macedo começou a escrever e falar para o Rio Grande do Sul. Hoje, já são quatro décadas de profissão. Engana-se, no entanto, quem pensa que o apresentador do Gaúcha Hoje pretende se acomodar:

– Tem que olhar sempre para frente, para as coisas que estão sendo feitas pelos jovens e as que estão sendo feitas ao teu redor. Estar sempre aberto para as inovações e ter a capacidade de se adaptar a elas.

Com 19 anos, nem o segundo semestre completado na faculdade de jornalismo, o então estudante começou a trabalhar na Companhia Jornalística Caldas Júnior, passando pela Central do Interior, Rádio Guaíba e Correio do Povo. Ficou lá até 1984, no auge da crise da empresa de Breno Caldas. No mesmo ano, passou a integrar o quadro de reportagem da Rádio Gaúcha e, em 1986, já tinha pela frente a cobertura da primeira de uma série de cinco copas do mundo.

O acompanhamento diário do futebol, as jornadas esportivas e a substituição na apresentação de alguns programas eram a rotina inicial de Macedo na principal rádio de jornalismo do Grupo RBS. Em 1990, o então repórter passou a apresentar o Plantão Gaúcha, unificando 50 minutos de jornalismo e 40 de futebol em um mesmo programa. Durante aquele período, inclusive, ele iniciou o processo de abertura para a participação do ouvinte na programação da rádio:

– No Plantão, eu não botava o ouvinte ao vivo, mas fazia quase isso. Gravava um pouco antes depoimentos, anunciava no Show dos Esportes e colocava no ar, mas fazia gravado porque, naquela época, o pessoal tinha ainda muito medo do que se pudesse dizer no ar.

Macedo e a interatividade com o ouvinte
Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, 9 dez. 2007. TV + Show, p. 9.

O marco maior deste processo, no entanto, aconteceu a partir de 1997, quando o âncora começou a dar espaço para o ouvinte no horário nobre da Gaúcha nas duas edições do Chamada Geral, programa que Macedo passou a apresentar em 1993. Os relatos dos ouvintes abriram a possibilidade para a reportagem chegar a problemas sobre os quais a emissora talvez acabasse não tendo conhecimento. Ao mesmo tempo, deram uma nova identidade ao programa, iniciando a tendência da participação do público na rádio. Agilidade e empatia com poucos gastos despontaram como vantagens.

– Isso gerou uma quebra de paradigma, porque os repórteres da época ficavam chateados, bravos até, quando recebiam pautas vindas de ouvinte, mal acostumados com aquela distorção de que o jornalismo tem que ser feito a partir de uma instituição.


Antônio Carlos Macedo
Entrevista realizada por Bruno Pancot em 6 de junho de 2014.

Assim, já estavam lançadas as bases para o que seria feito no Gaúcha Hoje  em termos de interação com o público. O engarrafamento na BR-116, a avenida Mauá trancada e a chuva chegando a Veranópolis: hoje, a participação de quem ouve é indispensável no programa. A partir de torpedos, mensagens pelo Facebook, Twitter e WhatsApp, o conteúdo enviado pelo ouvinte mescla-se às notícias da própria redação. E, claro, não só informação, mas também os pitacos do ouvinte e as mensagens mais singelas pedindo um abraço ou relatando que algum familiar está na escuta. Foi uma inovação para a qual Antônio Carlos Macedo contribuiu muito.


Homenagem da Rádio Gaúcha nos 60 anos de Antônio Carlos Macedo (7 de maio de 2015)
Produção de Voltaire Santos e Douglas Weber
Fonte: RÁDIO GAÚCHA. Gaúcha Hoje, Porto Alegre, 7 maio 2015.