Heron Domingues, o gaúcho do Repórter Esso, da Rádio Nacional
2013
Luiz Artur Ferraretto

Heron Domingues (1957)
Fonte: Álbum do Rádio, Rio de Janeiro, n. 8, p. 114, 1957.

A voz soava inconfundível ao microfone da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, conferindo credibilidade às notícias que se sucediam nos cinco minutos seguintes:

– Aqui fala o Repórter Esso – frase que antecedia um dos vários textos padronizados criados pela agência McCann-Erikson para o noticiário patrocinado pela Standard Oil Company of Brazil.

A “testemunha ocular da história”, epíteto mais tradicional do noticiário, iria se confundir, durante décadas, com este profissional nascido em São Gabriel, a 320 km de Porto Alegre. Heron Domingues começou a carreira de forma totalmente improvisada, mas, nem por isto, destituída de brilho. Participando de um concurso de calouros na Rádio Gaúcha, acabou, na ausência de um locutor, por anunciar o ataque japonês a Pearl Harbor. Naquele 7 de dezembro de 1941 começou a carreira que terminaria também bem próxima a outro fato histórico, a renúncia do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. Horas depois de noticiá-la, no final de noite da Rede Globo de Televisão, em 9 de agosto de 1974, Heron sofreu fulminante ataque cardíaco. Licença poética do destino, foi um fecho eloquente na trajetória do dedicadíssimo profissional.

Escolhido para o Esso em 1944, Domingues chegou a quase morar na redação da Nacional, no ano seguinte, dormindo em uma cama de campanha, para não perder a oportunidade de dar, em primeira mão, o fim da Segunda Guerra. Naquela vez, o destino, no entanto, demonstrou-se implacável. O Repórter Esso acabou furado pela concorrência. Dependendo da United Press, que acatara uma espécie de acordo com os Aliados,  segurou involuntariamente a notícia, enquanto outros informativos – os que eram abastecidos pela Associated Press – divulgavam o fim do conflito mundo afora.

Independentemente destes pequenos percalços, Heron Domingues fazia valer, em cada notícia, uma espécie de norma pessoal. Narrava o fato como se estivesse em uma trincheira. E deixou lições para as gerações de profissionais que vieram depois. Aliás, exemplo disto é o chamado Manual Sonoro, que fez questão de gravar, orientando os demais locutores do Esso.

Manual Sonoro do Repórter Esso (anos 1950)
Material de orientação gravado por Heron Domingues.
Fonte: KLÖCKNER, Luciano (Org.). O Repórter Esso – A síntese radiofônica mundial que fez história. 2.ed.
Porto Alegre: AGE/ Editora da PUCRS, 2011. CD.

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